“Será que o sofrimento é realmente necessário? Sim
e não. O sofrimento rompe a casca do ego – do “eu” autocentrado – e promove uma
abertura até atingir um ponto em que cumpriu sua função. O sofrimento é
necessário até que você se dê conta de que ele é desnecessário.
“O sofrimento começa quando você classifica ou
rotula uma situação de indesejável ou má. Você se ofende com alguma situação e
essa ofensa desperta um ego que reage.
“Classificar ou rotular é um comportamento comum,
mas é também um hábito que pode ser rompido. Comece “não rotular” os pequenos
acontecimentos. Se você perdeu o avião, se tropeçou e quebrou uma xícara, se
escorregou e caiu na lama – será que é capaz de se conter e não rotular o fato
como ruim ou desastroso? É capaz de aceitar a “situação” tal como é naquele
momento?
“Rotular alguma coisa como ruim provoca uma tensão
emocional. Se você deixar que as coisas existam sem classifica-las, passa a
dispor de um enorme poder. A tensão emocional separa você desse poder, que é o
próprio poder da vida.
“É absolutamente normal não desejar sofrer. Mas, se
você se desapegar desse desejo e aceitar a presença da dor, talvez note uma
sutil separação interna, um espaço entre você e a dor. Isso significa que você
passa a sofrer conscientemente, aceitando. Quando você sofre conscientemente,
quando aceita a dor física, ela anula o ego, pois o ego é formado sobretudo por
resistência. O mesmo ocorre com uma grande deficiência física.
“Oferecer o seu sofrimento a Deus é outra forma de
fazer isso. É o que traduzem as palavras de Cristo na cruz: “faça-se em mim
segundo a Tua vontade, e não a minha”.
“Ao se entregar, aquilo que parecia negar a
existência de qualquer dimensão transcendental torna-se uma abertura para esta
dimensão”.
(Eckhart Tolle – O Poder do Silêncio)
Ter
emoções é muito importante para a nossa saúde; não resta dúvida. Mas, quando se
trata de uma dor, quer seja física ou moral, as emoções negativas que emergem,
como raiva, ansiedade, tristeza, inveja e ciúme, se vinculam com a dor de tal
forma que o sofrimento toma uma proporção muito grande. Esse sofrimento, quando
intenso e prolongado, nos torna vulnerável e tudo piora, dificultando a
retomada do equilíbrio físico, mental e espiritual. Se mantemos a equanimidade,
o otimismo, um certo distanciamento e, principalmente a aceitação, o efeito se
torna o oposto, gerando bem-estar e conforto para a alma. É importante observar
que os efeitos das emoções positivas não são tão intensos quanto o das emoções
negativas. E por que? Porque o ego experimenta uma ideia de invasão e
fragmentação. Com isso, ele tenta se defender a todo custo, apegando-se ou gerando
aversão. Nas emoções positivas, é mais propício ao ego sentir-se poderoso. Por
isso, a ideia de distanciamento das emoções é tão importante.
Se você fica
consciente da dor e não deixa as emoções negativas invadam e se apoderarem de
teu ser, você não sofre ou, pelo menos diminui consideravelmente o sofrimento.
O grande problema é que, quando temos alguma dor física, moral ou sentimental,
logo, logo a emoção negativa toma conta. Aí o sofrimento é inevitável. O
sofrimento está diretamente condicionado a uma emoção negativa. Afinal de
contas, essa estrutura emocional é ativada pelo ego, que é o eu inferior, o eu
menor. Essa estrutura emocional não representa o nosso verdadeiro eu. Quando
você consegue se distanciar dessas emoções negativas, você percebe exatamente
aquilo que Eckhart Tolle falou – um espaço entre você e a dor. Se você se
confunde com a dor, o sofrimento aparece. Mas, se você não se confunde com a
dor, o sofrimento míngua.
Outra forma de nós não
sofrermos tanto com a dor, apontada por Eckhart Tolle, ou mesmo anular o
sofrimento, é oferecer esta dor a Deus, entrega-la a Deus. Essa questão da
espiritualidade é crucial para amenizarmos o sofrimento. Pouco mais da metade
da população mundial não tem e não pratica nenhuma crença religiosa e muito
menos trazem alguma bagagem espiritual. São pessoas sem fé, que não se inspiram
em Deus. São pessoas materialistas, mecanicistas e imediatistas. Por isso há
tanto sofrimento no mundo e sua atmosfera psíquica está tão pesada. Quando
alimentamos este canal com o divino, ativamos um psiquismo e um fisiologismo
que nos ergue e nos impulsiona para frente, porque sabemos que é Deus quem está
no comando.
Então, vamos fazer uma
meditação para abrandar a agitação mental e, consequentemente, a emocional.
Feche seus olhos. Deixe suas mãos relaxadas sobre as pernas. Dirija sua atenção
para algum momento de sua vida que ainda abala o seu emocional e te traz sofrimento.
Por alguns instantes, perceba as emoções que brotam devido à agitação da mente.
Perceba este estado de turbulência. Entenda que este sofrimento não pertence a
você, ao seu Eu Maior, ao seu Ātman, à sua consciência plena. Esse
sofrimento pertence ao ego – esse parceiro invisível que está sempre conosco e
que nos é necessário, mas que é apenas um instrumento do verdadeiro eu. Tente
perceber a distância que existe entre o Eu verdadeiro, que é eterno, imutável e
pleno, e a dor, que pertence ao corpo físico ou mental.
Então, inspire e
expire algumas vezes com mais intensidade até sentir que você está inteiramente
em conexão com sua respiração, sem interferência dos assuntos da mente. Enquanto
respira com intensidade, permita que todo tipo de sofrimento vá embora. Gradualmente,
vá suavizando sua respiração até poder observa-la em seu movimento natural.
Agora, visualize um
intenso disco de luz dourado no centro de seu coração. Vá tornando-o cada vez
menor até desaparecer. Continue concentrando-se no mesmo local onde se
encontrava a luz. Observe, então, mais uma vez, seu estado emocional. Observe o
estado de plenitude do Ser. Fique assim por mais um instante e, em seguida,
retorne devagar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário