segunda-feira, 13 de julho de 2020

EMOÇÕES & SOFRIMENTO



“Será que o sofrimento é realmente necessário? Sim e não. O sofrimento rompe a casca do ego – do “eu” autocentrado – e promove uma abertura até atingir um ponto em que cumpriu sua função. O sofrimento é necessário até que você se dê conta de que ele é desnecessário.
“O sofrimento começa quando você classifica ou rotula uma situação de indesejável ou má. Você se ofende com alguma situação e essa ofensa desperta um ego que reage.
“Classificar ou rotular é um comportamento comum, mas é também um hábito que pode ser rompido. Comece “não rotular” os pequenos acontecimentos. Se você perdeu o avião, se tropeçou e quebrou uma xícara, se escorregou e caiu na lama – será que é capaz de se conter e não rotular o fato como ruim ou desastroso? É capaz de aceitar a “situação” tal como é naquele momento?
“Rotular alguma coisa como ruim provoca uma tensão emocional. Se você deixar que as coisas existam sem classifica-las, passa a dispor de um enorme poder. A tensão emocional separa você desse poder, que é o próprio poder da vida.
“É absolutamente normal não desejar sofrer. Mas, se você se desapegar desse desejo e aceitar a presença da dor, talvez note uma sutil separação interna, um espaço entre você e a dor. Isso significa que você passa a sofrer conscientemente, aceitando. Quando você sofre conscientemente, quando aceita a dor física, ela anula o ego, pois o ego é formado sobretudo por resistência. O mesmo ocorre com uma grande deficiência física.
“Oferecer o seu sofrimento a Deus é outra forma de fazer isso. É o que traduzem as palavras de Cristo na cruz: “faça-se em mim segundo a Tua vontade, e não a minha”.
“Ao se entregar, aquilo que parecia negar a existência de qualquer dimensão transcendental torna-se uma abertura para esta dimensão”.
(Eckhart Tolle – O Poder do Silêncio)


Ter emoções é muito importante para a nossa saúde; não resta dúvida. Mas, quando se trata de uma dor, quer seja física ou moral, as emoções negativas que emergem, como raiva, ansiedade, tristeza, inveja e ciúme, se vinculam com a dor de tal forma que o sofrimento toma uma proporção muito grande. Esse sofrimento, quando intenso e prolongado, nos torna vulnerável e tudo piora, dificultando a retomada do equilíbrio físico, mental e espiritual. Se mantemos a equanimidade, o otimismo, um certo distanciamento e, principalmente a aceitação, o efeito se torna o oposto, gerando bem-estar e conforto para a alma. É importante observar que os efeitos das emoções positivas não são tão intensos quanto o das emoções negativas. E por que? Porque o ego experimenta uma ideia de invasão e fragmentação. Com isso, ele tenta se defender a todo custo, apegando-se ou gerando aversão. Nas emoções positivas, é mais propício ao ego sentir-se poderoso. Por isso, a ideia de distanciamento das emoções é tão importante.

Se você fica consciente da dor e não deixa as emoções negativas invadam e se apoderarem de teu ser, você não sofre ou, pelo menos diminui consideravelmente o sofrimento. O grande problema é que, quando temos alguma dor física, moral ou sentimental, logo, logo a emoção negativa toma conta. Aí o sofrimento é inevitável. O sofrimento está diretamente condicionado a uma emoção negativa. Afinal de contas, essa estrutura emocional é ativada pelo ego, que é o eu inferior, o eu menor. Essa estrutura emocional não representa o nosso verdadeiro eu. Quando você consegue se distanciar dessas emoções negativas, você percebe exatamente aquilo que Eckhart Tolle falou – um espaço entre você e a dor. Se você se confunde com a dor, o sofrimento aparece. Mas, se você não se confunde com a dor, o sofrimento míngua.

Outra forma de nós não sofrermos tanto com a dor, apontada por Eckhart Tolle, ou mesmo anular o sofrimento, é oferecer esta dor a Deus, entrega-la a Deus. Essa questão da espiritualidade é crucial para amenizarmos o sofrimento. Pouco mais da metade da população mundial não tem e não pratica nenhuma crença religiosa e muito menos trazem alguma bagagem espiritual. São pessoas sem fé, que não se inspiram em Deus. São pessoas materialistas, mecanicistas e imediatistas. Por isso há tanto sofrimento no mundo e sua atmosfera psíquica está tão pesada. Quando alimentamos este canal com o divino, ativamos um psiquismo e um fisiologismo que nos ergue e nos impulsiona para frente, porque sabemos que é Deus quem está no comando.

Então, vamos fazer uma meditação para abrandar a agitação mental e, consequentemente, a emocional. Feche seus olhos. Deixe suas mãos relaxadas sobre as pernas. Dirija sua atenção para algum momento de sua vida que ainda abala o seu emocional e te traz sofrimento. Por alguns instantes, perceba as emoções que brotam devido à agitação da mente. Perceba este estado de turbulência. Entenda que este sofrimento não pertence a você, ao seu Eu Maior, ao seu Ātman, à sua consciência plena. Esse sofrimento pertence ao ego – esse parceiro invisível que está sempre conosco e que nos é necessário, mas que é apenas um instrumento do verdadeiro eu. Tente perceber a distância que existe entre o Eu verdadeiro, que é eterno, imutável e pleno, e a dor, que pertence ao corpo físico ou mental.

Então, inspire e expire algumas vezes com mais intensidade até sentir que você está inteiramente em conexão com sua respiração, sem interferência dos assuntos da mente. Enquanto respira com intensidade, permita que todo tipo de sofrimento vá embora. Gradualmente, vá suavizando sua respiração até poder observa-la em seu movimento natural.

Agora, visualize um intenso disco de luz dourado no centro de seu coração. Vá tornando-o cada vez menor até desaparecer. Continue concentrando-se no mesmo local onde se encontrava a luz. Observe, então, mais uma vez, seu estado emocional. Observe o estado de plenitude do Ser. Fique assim por mais um instante e, em seguida, retorne devagar.

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