quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

QUANDO YOGA NÃO É PERIGOSO


Deve-se deixar bem claro que Yoga não é ginástica, apesar de incorporar em suas inúmeras técnicas a prática corporal.  Yoga não é esporte; a não ser que queiramos disputar uma partida com nosso Eu divino.  Yoga não é para endireitar barriguinhas, nem tornar o corpo sarado; porque Yoga é uma prática para o regozijo interno e não precisa de espelhos para ver a “performance” – os olhos devem estar fechados.
         Poderíamos definir Yoga de várias maneiras, como:
\      Uma forma de se atingir estados de consciência superiores;
\      Um conjunto de práticas que visam à integração do Ser;
\      A união do Ser com Deus, liberando o ser humano das prisões do mundo;
\      A realização de uma perfeita e completa autonomia;
\      A liberação do homem do sofrimento e da dor;
\      A experiência da infinitude em nossa própria forma finita.
O Yoga é uma prática espiritual, que tem como ferramentas o corpo e a mente.  Através de sua prática, construímos estas ferramentas (corpo e mente) para que, a partir delas, alcancemos o pleno estado de lucidez, discernimento e sabedoria – a iluminação ou o reconhecimento de que já somos a Luz divina.  O Yoga é muito abrangente e comporta inúmeras abordagens.  Através do Yoga, adquirimos um corpo saudável e uma mente tranqüila.  Mas, isso não é tudo.  Precisamos da mente e do corpo em harmonia para mergulharmos no oceano do espírito, em busca do reconhecimento da Luz, dissipando a ignorância – a raiz de todos os apegos e aversões.  O maior propósito do Yoga é neutralizar os efeitos causados pelas impressões mentais de apegos e aversões.  Esses dois vilões geram os seis principais venenos (desejo, ódio, avareza, ilusão, orgulho e inveja).


       Usamos o Yoga como terapia, preparador físico e restaurador da mente.  Porém, ele transcende este campo e é este conceito que devemos ter sempre na mente quando a praticamos.
          Enfim, o Yoga não pode ser considerado uma panacéia universal, mas é uma sabedoria milenar que se torna muito útil ao homem do século XXI, ao novo homem que está surgindo, não em substituição ao homem atual, mas em constatação realista de uma evolução natural.  O Yoga ajudará o novo homem na medida em que ajuda o homem atual.
Sabemos que o mundo vem passando por transformações em todos os campos da vida.  Parece que o planeta se prepara para uma grande mudança.  Basta lermos os noticiários!  Vivemos, assim, uma crise coletiva – valores, conceitos, crenças, afetos, deveres e direitos estão mudando; invertidos, transfigurados ou travestidos ou ainda sei lá como mais.  A crise individual se alastra numa crise coletiva e a crise coletiva influencia a crise individual.  Somos vítimas e predadores simultaneamente.  O planeta vive a turbulência, a natureza reage e nós nos comprimimos, nos achatamos, enfraquecemos e adoecemos.
          No mundo de hoje, sermos dotados de uma percepção mais clara e elevada, para suportarmos as pressões impostas pela alta tecnologia da vida moderna das grandes metrópoles, tornou-se quase que uma obrigação.  Para tal, o estado de integração (corpo, respiração e mente) e de se sentir inteiro em si mesmo é o caminho.  E uma das grandes jóias que dispomos para integrar este tríplice aspecto do Ser é a filosofia prática do Yoga.
Na forma de doenças físicas e psíquicas, sinalizando o que deve ser transformado, tais crises nos levam ao questionamento: “Quem sou eu?  Por que vivo?  Por que sofro?  Para onde vou?  Qual a verdadeira felicidade?”  E é desta crise que está surgindo o novo homem.  Para sanarmos esta crise e nos transformarmos, podemos usar o Yoga como método organizado e prático, pois podemos classificá-lo como uma terapia completa – uma terapia divina.
O maior e mais profundo objetivo da Alma humana é realizar Deus dentro de si, ou seja, alcançar a plenitude de sua consciência.  Procuramos as mais diversas terapias quando nos sentimos desajustados, desorganizados ou desequilibrados em relação às nossas atitudes e ao meio em que vivemos; enfim, quando nos sentimos incapazes e insatisfeitos.  Isto ocorre porque estamos distantes de nossa essência divina, encobertos por um grosso manto de quinquilharias mentais e emocionais gerados pela nossa falta de discernimento.  Em última análise, absorto em nossa ignorância, enxergando apenas a pequenez da vida – o lado ilusório ou impermanente, ao qual nos identificamos.
Partindo desta premissa, podemos dizer com segurança que o Yoga, através de uma revolucionária e definitiva transformação interior, é a maior e mais profunda das terapias.  O Yoga é um sistema completo: trata do corpo, ajusta as emoções, remove os condicionamentos mentais, refina o intelecto e nos mostra o poderoso potencial divino que existe em nós.
Patañjali, grande filósofo, matemático e gramático da Índia antiga, distingue nos Yoga-sutras oito aspectos a serem trabalhados e que estão inteiramente correlacionados.  Esses aspectos dão ao Yoga atual o lugar da mais completa prática terapêutica existente.  Vejamos:
1º.  O Yoga é dotado de uma base ética e filosófica (yamas e niyamas) que nos dá material de sobra para nos trabalharmos ao nível comportamental, como, entre outras, a verdade (satya) nas palavras e ações, a não-violência (ahimsa) para consigo e com os outros, a disciplina (tapah) no esforço contínuo de crescimento e o contentamento (santosha) que nos dá a aceitação do momento presente e nos deixa livres para aprender.  Devemos incorporar esta base ética, tanto durante a prática como em nossos afazeres diários.
2º.  O Yoga dispõe de um grande número de posturas físicas (asanas), que se originaram no tantra, para que possamos trabalhar a tonicidade, a flexibilidade e a força muscular, além da correta acomodação e funcionamento dos órgãos internos, o equilíbrio, a coordenação motora e a consciência de nosso corpo.  Isto, sem falar no equilíbrio energético que produz nos corpos sutis.  Para garantirmos esses efeitos, devemos caminhar passo a passo, numa conquista lenta e minuciosa.  Devemos respeitar nosso corpo na execução de cada postura, trabalhando a não-violência.  Devemos entender que a postura correta varia para cada pessoa, pois temos as nossas diferenças.  O correto é que façamos o esforço na medida e direção certa, o que requer um mestre que tenha sensibilidade para perceber as pequenas diferenças que existem entre o seu corpo e o do aluno.
3º.  O Yoga conta também com inúmeras práticas respiratórias (pranayamas) oriundas do tantrismo que, além de beneficiar o aparelho cárdio-respiratório e o sistema nervoso, favorece a eliminação do estresse gerado pelo sobressalto da vida moderna.  Sabemos hoje que o respirar bem é um grande aliado nos trabalhos de controle da ansiedade, do medo, da ira e do apego.  Mas, para alcançar tais efeitos, precisamos avançar com cautela, sem exageros, adaptando seu sistema nervoso a um novo incremento de oxigênio e energia, para que não haja danos.  Isto, só se alcança, quando somos guiados por um professor que tenha bom senso, paciência e saiba, bem como respeite os limites do ser humano.
4º.  O Yoga utiliza ainda várias técnicas de relaxamento que ajudam o praticante a se desidentificar dos estímulos externos (pratyahara), dirigindo o foco de sua atenção para as suas questões mais profundas.  Desta forma, ele descobre seus potenciais escondidos nas defesas traumáticas criadas por um ego ainda identificado com a forma.  Esta viagem deve ser acompanhada por alguém que conheça profundamente os meandros e as artimanhas da mente humana.
5º.  Por fim, o Yoga possui um grande número de técnicas de superação dos sentidos e da mente (samyama) que nos leva a um mergulho interior, transcendendo os limites da mente e acessando o campo da potencialidade pura, do pensamento puro, a correlação pura, enfim, o campo quântico das infinitas possibilidades.  Samyama é o conjunto das práticas de concentração (dharana), meditação (dhyana) e encontro divino (samadhi) que nos faz ultrapassar o trivial campo do inconsciente, ou seja, o pré-consciente e o subconsciente, onde ficam registrados a nossa memória, nossos condicionamentos e automatismos, nosso raciocínio lógico e nossa identificação com o ego, para tocarmos o mais puro campo de luz, amor e paz do Ser verdadeiro.  Desta forma, temos condições de sanar nossos traumas, frustrações, inseguranças e limitações ao reconhecermos que não somos aquelas quinquilharias guardadas no inconsciente, as quais costumamos nos identificar.
Por estas razões, apesar de não ter sido organizado para ser uma terapia, o Yoga acaba se colocando como tal, devido à revolucionária e definitiva transformação que promove naquele que a pratica.  Que possamos alcançar em algum momento de nossas infinitas existências a luz eterna, o amor incondicional e a paz imperturbável!
Mas, lembrem-se: Yoga é um caminho espiritual.