terça-feira, 30 de junho de 2020

O ESTADO DE PRESENÇA



“O ego está sempre buscando. Busca sem cessar isso ou aquilo para se sentir mais completo. Isso explica por que ele se preocupa compulsivamente com o futuro.

“Ao perceber que está “vivendo para o momento seguinte”, você descobre que começou a abandonar o padrão da mente autocentrada. Torna-se então possível escolher concentrar toda a sua atenção no momento presente.

“Ao concentrar toda a atenção no momento presente, uma inteligência muito superior à da mente autocentrada entra em sua vida.

“Ao viver através do ego, você faz do presente apenas um meio para atingir o fim. Você vive em função do futuro, mas, quando atinge seus objetivos, eles não o satisfazem – ou não o satisfazem por muito tempo.

“Quando você dá mais atenção ao que está fazendo do que ao resultado que quer alcançar com a sua ação, rompe o velho condicionamento autocentrado. Sua ação presente se torna não só muito eficaz como infinitamente mais satisfatória e gratificante”.
(“O Poder do Silêncio”, Eckhart Tolle)


Com base nesta reflexão, vamos fazer uma meditação.

Sente-se numa posição confortável, quer seja de pernas cruzadas ou numa poltrona, cadeira, com os pés apoiados no chão e recoste-se. Deixe seu corpo relaxar. Relaxe cada vez mais e mais. Inspire profundamente e ao expirar relaxe. Mais uma vez inspire e ao expirar relaxe.

Vai, então, entrando em contato com seu estado de ser. Perceba aquela consciência que é a base de tudo, que é o verdadeiro ser, o Ātman, o EU SOU, que está por trás dos pensamentos, que está por trás de seu ritmo respiratório, de seu ritmo cardíaco, e de todo seu ser orgânico e psíquico. Lá se encontra o verdadeiro ser presente. O único estado possível para a consciência – o estado de presença.

Sinta-se presente. Sinta o que você realmente é – a sua existência como consciência, a plenitude do Ser; aquilo que os mestres indianos falam: o estado de sat-chit-ānanda, o estado de existir, de ser consciente e ser pleno. Sinta-se presente em sua respiração. Sinta-se presente em tudo aquilo que você escuta. Sinta-se presente em tudo aquilo que você toca e sente no seu corpo. Sinta-se presente em todas as imagens que chegam a sua mente. Sinta-se presente – o único tempo possível para a consciência, que é absoluta, imutável e eterna. Permaneça neste estado de presença mesmo após esta breve meditação.

Fique em paz na verdadeira presença do Ser.

Namaste.




O SILÊNCIO E A CALMA INTERIOR


“A calma é a nossa natureza essencial. O que é calma? É o espaço interior ou a consciência onde as palavras desta página são assimiladas e se transformam em pensamentos. Sem essa consciência, não haveria percepção, não haveria pensamentos nem mundo.

“Você é essa consciência em forma de pessoa.

“Quando você perde contato com sua calma interior, perde contato com você mesmo. Quando perde esse contato, fica perdido no mundo.

“Sua mais íntima noção de si mesmo, de quem você é, não pode ser separada da calma. Ela é o EU SOU, mais profundo do que seu nome e sua forma externa”.
(“O Poder do Silêncio”, Eckhart Tolle)


Esse texto é lindo. Ele tem muito a ver com a transição planetária, onde nós temos que parar, pensar e refletir sobre este momento.

Agora, procure sentar-se confortavelmente. Apoie suas costas. Sente-se com os pés no chão ou com as pernas cruzadas. Apoie suas mãos sobre as coxas. Feche seus olhos e dirija a atenção para a sua respiração. Observe seu ato de respirar. Procure fazer uma respiração tranquila, suave e prazerosa. Sinta o inspirar e o expirar. Perceba, então, o intervalo que existe entre cada inspiração e expiração. Quando inspira seus pulmões se enchem de ar até um volume máximo, e neste ponto ocorre uma parada para começar a expirar. Nesta parada encontra-se um intervalo, um vazio, aonde a base é o silêncio. Ao perceber este silêncio, você entra no estado profundo de paz, de calma interior. Assim, você acessa o seu verdadeiro estado de ser, a sua consciência, o Ātman. Respire suavemente, confortavelmente e sinta a presença do EU SOU.

Agora, dirija a atenção para a mente. A mente foi feita para pensar. Ela produz, ininterruptamente, o pensamento. Da mesma forma como na respiração, entre um pensamento e outro, existe o silêncio, existe o vazio, que permeia todo o Universo. Quando percebemos este vazio, este silêncio, alcançamos o verdadeiro estado de ser, a consciência, que está por de trás do pensamento, que está por de trás da mente, que está por de trás de sua respiração. Essa consciência se confunde com o Absoluto, o Eterno e Imutável. Pois, só existe o Absoluto, o Eterno e Imutável. E ele é a consciência. Perceba este estado. Perceba o profundo estado de paz, que se alcança ao entrar neste espaço vazio e de profundo silêncio.

Fique, então, em paz. 

Namaste.




sexta-feira, 26 de junho de 2020

A MEDITAÇÃO NO SER


Baseado nos Ensinamentos de Ramana Mahārhi


Esta técnica é a que melhor exemplifica o Jñāna Yoga, o Yoga do conhecimento da realidade. Ātma Vichāra é o questionamento sobre a natureza real da alma. Esta técnica tem como objetivo eliminar as falsas ideias sobre o Eu e o ego, e nos ensinar a separar o espectador do espetáculo, a consciência que percebe e o que é percebido.

Procure sentar-se de pernas cruzadas, sobre almofadas ou em algum assento que o deixe confortável. Repare que seus joelhos dobrados devem estar abaixo de seu quadril. Perceba o contato de suas pernas com o chão. Agora, organize seu quadril, o contato das nádegas com o chão. Sinta todo o amparo oferecido pelo chão ao seu corpo.

Tenha consciência de sua coluna vertebral, alinhando-a desde o quadril até a base da cabeça. Sua coluna deve estar ereta e equilibrada – sem pender para frente, nem para trás, nem para um lado e nem para o outro. Observe a cinta abdominal, recolhendo com muita suavidade os músculos abdominais, para que tenha maior conforto lombar. Mantenha seu peito aberto, colocando seus ombros bem para o lado. Com os braços relaxados, entrelace os dedos das mãos e deixe-as apoiadas sobre a base de seu corpo em suas pernas.

Agora, dirija a atenção para a cabeça. Ela deve estar no prolongamento da coluna vertebral, no alinhamento e ligeiramente inclinada para frente, enquanto a nuca é levada para trás. Com os músculos da mastigação descontraídos, relaxe a boca e mantenha a língua em contato com o palato, logo atrás dos dentes. Relaxe as pálpebras e os olhos, que devem estar com seu foco no ponto entre as sobrancelhas, o espaço dentro da testa chamado de tela mental.

Observe, então, sua respiração. Ela deve estar leve, solta e tranquila. Com a atenção no triângulo formado pelas narinas, mantenha-se como testemunha de seu ato de respirar. Perceba o ar que entra e que sai pelas narinas. Nada mais além disso!

Tome consciência de seu verdadeiro “Eu” – aquele que está além de tudo e que a tudo testemunha, imutável, eterno, sereno, uno, pleno e absoluto. Questione-se: quem sou eu? Ao final, mergulhe em profundo silêncio!

Quem sou eu, que não é este corpo? Eu posso ver e tocar este corpo, que é transitório e se modifica a todo momento. Ele me serve como instrumento do plano físico, mas eu não sou este corpo. Se eu o percebo, então ele está fora do “eu”, do qual eu sou.  Eu sou o ser, que é imaterial, imutável e imperecível.

Quem sou eu, que não é esta mente que pensa? Essa mente se agita e se modifica a cada instante. A cada nova percepção, uma nova ondulação na mente provoca um novo pensamento. Se percebo isto, então esta mente que pensa é apenas uma projeção que, em dado momento acaba ou se modifica. Eu sou o ser, que é pleno de serenidade e paz.

Quem sou eu, que não sou os cinco sentidos? Os cinco sentidos registram tudo aquilo que está fora de mim. Eles são apenas um instrumento utilizado pela mente para perceber e interagir com o mundo externo. Eu percebo o que os sentidos registram e esses registros, além de se modificarem a cada instante, eles separam, geram confusão e limitam todas as impressões. Isto não expressa a realidade. O ser é plenamente integrado e sem ruídos. Eu sou o ser, que é silêncio e comunhão.

Quem sou eu, que não sou as emoções? Eu identifico as emoções e percebo que elas variam a todo momento – ora são de prazer, ora são de lamento e dor. As emoções não são estáveis e contínuas. Se eu as percebo, é porque estão fora de mim e nada que esteja destacado de mim mesmo pode ser o verdadeiro eu. As emoções pertencem aos mecanismos do ego, que é passional e inconstante. Eu sou o ser, que é ponderação e equilíbrio.

Quem sou eu, que não sou sensações? As sensações pertencem a este corpo físico para fazer o intercâmbio, através dos sentidos, com o meio externo. Elas flutuam, conforme os estímulos que recebe e as inferências criadas pelo ego. Elas se manifestam dentro de um vasto campo que vai do desconfortável ao agradável, e não pertencem à neutralidade do ser absoluto. Eu sou o ser, que é neutro e pleno de satisfação.

Quem sou eu, que não sou desejo, necessidade, vontade? O desejo e a vontade nascem da necessidade do ego, que é incompleto e carente, por não reconhecer a totalidade que já é. O verdadeiro ser nada deseja, nada necessita, nem aspira, porque é o todo e fora do todo nada existe. Se existe algo fora do todo, então o todo não é tudo, e isto é impossível ao que é absoluto. Eu sou o ser, que é plenitude e infinitude.

Quem sou eu, que não sou passado, presente e nem futuro? O passado faz parte da memória e o futuro, da imaginação. Ambos, memória e imaginação, são estruturas usadas pelo ego. O presente é apenas um divisor entre o passado e o futuro. Nesse exato instante, o presente já se tornou o passado, dando lugar ao que era futuro. Isso é a efemeridade daquilo que percebo como vida, e representa a ilusão causada pelo ego. Eu sou o ser, que é atemporal e eterno.

Quem sou eu, que não sou ego, personalidade? O ego é apenas uma pequena parte de minha existência. Ele é o personagem que represento em cada existência. A cada nova existência, entra em cena um novo personagem. Desta forma, o ego se fragmenta em inúmeras representações. O verdadeiro “eu” é aquele que está no ápice e que testemunha a todas as representações. O verdadeiro “eu” abarca e integra todos as personalidades. Eu sou o ser, que é tudo.

Quem sou eu, que não sou os papéis que represento? Tenho inúmeros papéis a representar nesta vida – ora estou como pai ou mãe, ora como filho ou filha, ora como patrão, ora como empregado, ora aluno, ora professor. A cada momento assumo um papel diferente. Percebendo estes variados papéis, concluo que alguém está por trás, dando vida a cada personagem. Este alguém é o ser essencial. Eu sou este ser essencial, que é a verdadeira natureza, a verdadeira identidade.

Quem sou eu, que não sou individualidade? A individualidade me dá uma noção de separatividade – eu estou aqui e aquilo ou o outro ali – como compartimentos. Isto me cria uma limitação, quanto à interação com o todo, que não se afina com aquilo que é eterno, infinito e pleno. Algo unifica a tudo, fazendo com que tudo se inter-relacione. Quando percebo isto o “eu” indivíduo se esquece na unidade do verdadeiro “eu”. Eu sou o ser, que é a unidade.

Quem sou eu, que não sou orgulho e vaidade? Orgulho e vaidade estão fundamentados no conceito de separatividade criados pelo ego. Uma flor expressa sua beleza e seu aroma para todos, porque esta é sua natureza, e para ela é simples assim manifestar sua perfumada beleza. Não há orgulho, nem vaidade, nas manifestações da natureza, porque não há a complexidade do ego, e este não é o verdadeiro ser. Eu sou este ser, que é simplicidade.

Quem sou eu, que não sou insegurança e medo? Insegurança e medo são aspectos da escuridão ou ignorância do ego, que é confuso e identificado com a dualidade e a impermanência da coisas e fatos pertencentes aos planos existenciais. O verdadeiro ser tem total clareza de tudo. Impassível, o ser essencial não se altera, pois tudo conhece, tudo alcança e tudo gesta. Eu sou este ser, que é luz.

“Não há como se tornar real, aquilo que é irreal; nem há como desaparecer aquilo que é a realidade essencial. Mas, a verdade de ambos é vista pelos que veem a realidade. Portanto, tome conhecimento do indestrutível que permeia tudo isto; pois, ninguém pode destruir aquilo que é imutável. Os corpos que são instrumentos do Eu, que é eterno, indestrutível e incomensurável, são declarados como sujeitos ao desaparecimento. Portanto, lute para se libertar das percepções errôneas”.
(Bhagavad Gītā II – 16, 17, 18)

“O Eu nunca nasceu e jamais morrerá; se sua existência nunca teve um início, tampouco terá um fim. Este Eu que é não-nascido, é eterno, imutável, primordial. Ele não morre, quando o corpo se acaba”.
(Bhagavad Gītā II – 20)

“Armas não cortam este Eu, tampouco o fogo não o queima. A água não o molha, nem o vento o seca. Ele, o Eu, não pode ser cortado queimado, molhado nem seco. Ele é eterno, em tudo penetrante, firme, imóvel, antigo, mas sempre o mesmo”.
(Bhagavad Gītā II – 23, 24)

Agora, mergulhe no silêncio e se conscientize da beleza, da simplicidade e da unidade que é. Desfrute da infinitude, da eternidade e da plenitude do Ser.




EU ME CURVO

Esta oração surgiu no dia 4 de abril recente, após uma grande meditação que foi feita de âmbito mundial.

Pai Eterno,
Eu me curvo diante de Ti 
pela reta conduta que estás sempre a me acenar.

Eu me curvo diante de Ti 
pelo caminho da paz interior que estás sempre a me chamar.

Eu me curvo diante de Ti 
por me mostrar sempre o ponderado concílio entre os opostos.

Eu me curvo diante de Ti 
por me acolher em seu infinito e incondicional amor.

Eu me curvo diante de Ti 
quando me fazes ver a verdade eterna de suas infinitas moradas.

Eu me curvo diante de Ti 
pela clareza que Tu me empoderas.

Eu me curvo diante de Ti 
pela grandeza, infinitude e beleza de tudo que criastes.

Eu me curvo diante de Ti 
quando percebo que és Tu quem age através de mim.

Eu me curvo diante de Ti 
por me fazer tão grande ao me apequenar em profundo louvor aos Seus pés.

Tu és, Eterno Senhor, tudo que tenho; a razão de minha existência.

Amém.