1Todos os atos de generosidade,
Ou dar e fazer oferendas aos buddhas,
Acumulados ao longo de mil eras
Podem ser destruídos por um único instante de raiva.
2Não há mal maior do que a raiva,
Nem prática espiritual maior do que a
paciência.
Portanto, lute de todas as formas
Para se impregnar, com urgência, com a prática da paciência.
3Aqueles que vivem atormentados pela dor da raiva,
Jamais conhecerão a paz de espírito,
Não encontrará alegria nem felicidade
E se tornará desassossegado e insone.
4Tomado por um ataque de raiva,
Poderá matar até nobres pessoas,
De cuja bondade era dependente
Para obter honrarias e bens materiais.
5A raiva faz com que amigos e parentes se afastem
E mesmo que tente atraí-los com
generosidade, não mais confiarão.
Os homens raivosos não conhecem a
alegria,
Abandonados que são por toda
felicidade e paz.
(Śhāntideva, Bodhisattvacharyāvatāra 6:1-5)
A cultura da paciência
está profundamente arraigada nos costumes tibetanos. Ela faz parte de um grupo
de seis perfeições (pāramitā) do budismo mahāyāna (grande
veículo), que é um sistema de ensino do budismo tibetano difundido pelo grande
mestre Nāgārjuna. As seis
pāramitās são: generosidade (dāna), conduta moral (śhīla), paciência
(śhānti), esforço
de continuidade (vīrya),
meditação (dhyāna) e
sabedoria (prājñā).
Śhāntideva foi um
monge e estudioso do budismo tibetano do século VIII e adepto da filosofia mādhyamika de Nāgārjuna. Śhāntideva não
era muito apreciado no Mosteiro de Nālanda. Não
comparecia a nada, não estudava nem praticava as sessões no Mosteiro. Diziam
que ele só comia, dormia e fazia suas necessidades. Por isso foi instigado por
seus colegas a dar uma palestra para que fosse humilhado. Conta-se que, após já
ter iniciado sua palestra, começou a levitar cada vez mais alto até
desaparecer, ouvindo-se apenas seus ensinamentos. Daí originou-se este
compêndio, que a grosso modo se traduz por “Caminho do Bodhisattva” ou “Caminho do Conhecimento Perfeito”, e ele nunca
mais foi visto.
Comentando
o texto: não adianta ser caridoso ou fazer orações aos grandes mestres, santos
e a Deus, por toda a sua vida, se a mente continua reativa e passional. Uma
simples atitude colérica produz uma explosão de energia mental que rompe seu
campo eletromagnético, dilacerando a malha de proteção que o resguarda contra
as investidas dos mundos umbralinos. Desta forma, a contaminação com energias
desarmônicas é certa. Trata-se de uma ressonância com este padrão vibratório.
Perder a paciência gera ondas de desarmonia e nossas moléculas se deformam,
desarranjam e se desalinham. Isto nos causa sérias enfermidades, principalmente
no campo imunológico e cardiovascular.
A paciência está na
base das conquistas espirituais. Sem paciência não há tolerância, nem equidade
nas ações. Consequentemente, o amor ao próximo e a expressão da verdade
tornam-se ofuscadas. A paciência está diretamente comprometida com a
autoafirmação do ego que, de forma cega e surda, não compreende que tudo
acontece pela Vontade de Deus.
Assim
que a raiva se manifeste, ela deve ser dissolvida. Desta forma, vamos
desfazendo este mecanismo de defesa criado pelo ego. Alimentar a raiva nos leva
a perder a clareza dos fatos e atitudes, tornando-nos irracionais, puramente
instintivos. Vivemos sobressaltados e paranoicos, achando que tudo está contra
nós. Sem paz de espírito, vivemos de forma infeliz.
Pelo fato da raiva nos
cegar, podemos até destruir aquilo que nos é mais caro, quando temos como
semente a germinar, a ambição. Esta, associada a raiva nos faz produzir
verdadeiras catástrofes que, aparentemente, nos impulsiona a estados
financeiros e sociais de sucesso, mas que, perante a Luz de Deus, aos Olhos de
Deus, é uma experiência que nos remete a zonas umbralinas abismais.
A pessoa que sempre
está destilando raiva, lamentando ou reclamando de tudo e de todos não percebe
o quanto ela se torna indesejável, perdendo todo o apoio que uma boa amizade
poderia lhe dar. Seu campo energético fica extremamente espinhoso e as pessoas,
sem perceber a realidade do que está acontecendo no campo sutil, se sentem
avessas, se sentem mal na presença dessas pessoas.
Concluo este artigo
com o lindo mantra de Chenrezig (em
tibetano) ou Avalokiteśhvara (em
sânscrito, “Aquele que enxerga os clamores do mundo”) – o Buddha da compaixão. Sente-se confortavelmente. Leve sua atenção
para a região que vai do coração até a testa (região frontal). Imagine a
mistura da luz rosa do coração com a azul da cabeça, criando uma suave luz
lilás. Irradie essa luz lilás para além de seu corpo e deixe-a se expandir
infinitamente por todo o Universo.
OṀ MAṆI PEME HUṀ (em
pali) ou OṀ MAṆI PADME HUṀ (em
sânscrito)
Cada sílaba deste mantra uma ligação
energética com uma pāramitā. Vejamos:
OṀ (generosidade), MA (conduta moral ou vigilância ou disciplina),
ṆI (paciência), PE ou PA (esforço
contínuo ou empenho ou vigor),
ME ou DME
(meditação) e HUM (sabedoria).
O Buddha da Compaixão
é o amor em nós. E quando vivemos em amor, vivemos na Terra Pura do Nobre
Buddha.
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