quinta-feira, 9 de julho de 2020

RAIVA & PACIÊNCIA



1Todos os atos de generosidade,
Ou dar e fazer oferendas aos buddhas,
Acumulados ao longo de mil eras
Podem ser destruídos por um único instante de raiva.
2Não há mal maior do que a raiva,
Nem prática espiritual maior do que a paciência.
Portanto, lute de todas as formas
Para se impregnar, com urgência, com a prática da paciência.
3Aqueles que vivem atormentados pela dor da raiva,
Jamais conhecerão a paz de espírito,
Não encontrará alegria nem felicidade
E se tornará desassossegado e insone.
4Tomado por um ataque de raiva,
Poderá matar até nobres pessoas,
De cuja bondade era dependente
Para obter honrarias e bens materiais.
5A raiva faz com que amigos e parentes se afastem
E mesmo que tente atraí-los com generosidade, não mais confiarão.
Os homens raivosos não conhecem a alegria,
Abandonados que são por toda felicidade e paz.
(Śhāntideva, Bodhisattvacharyāvatāra 6:1-5)


A cultura da paciência está profundamente arraigada nos costumes tibetanos. Ela faz parte de um grupo de seis perfeições (pāramitā) do budismo mahāyāna (grande veículo), que é um sistema de ensino do budismo tibetano difundido pelo grande mestre Nāgārjuna. As seis pāramitās são: generosidade (dāna), conduta moral (śhīla), paciência (śhānti), esforço de continuidade (vīrya), meditação (dhyāna) e sabedoria (prāā).

Śhāntideva foi um monge e estudioso do budismo tibetano do século VIII e adepto da filosofia mādhyamika de Nāgārjuna. Śhāntideva não era muito apreciado no Mosteiro de Nālanda. Não comparecia a nada, não estudava nem praticava as sessões no Mosteiro. Diziam que ele só comia, dormia e fazia suas necessidades. Por isso foi instigado por seus colegas a dar uma palestra para que fosse humilhado. Conta-se que, após já ter iniciado sua palestra, começou a levitar cada vez mais alto até desaparecer, ouvindo-se apenas seus ensinamentos. Daí originou-se este compêndio, que a grosso modo se traduz por “Caminho do Bodhisattva” ou “Caminho do Conhecimento Perfeito”, e ele nunca mais foi visto.

Comentando o texto: não adianta ser caridoso ou fazer orações aos grandes mestres, santos e a Deus, por toda a sua vida, se a mente continua reativa e passional. Uma simples atitude colérica produz uma explosão de energia mental que rompe seu campo eletromagnético, dilacerando a malha de proteção que o resguarda contra as investidas dos mundos umbralinos. Desta forma, a contaminação com energias desarmônicas é certa. Trata-se de uma ressonância com este padrão vibratório. Perder a paciência gera ondas de desarmonia e nossas moléculas se deformam, desarranjam e se desalinham. Isto nos causa sérias enfermidades, principalmente no campo imunológico e cardiovascular.

A paciência está na base das conquistas espirituais. Sem paciência não há tolerância, nem equidade nas ações. Consequentemente, o amor ao próximo e a expressão da verdade tornam-se ofuscadas. A paciência está diretamente comprometida com a autoafirmação do ego que, de forma cega e surda, não compreende que tudo acontece pela Vontade de Deus.

Assim que a raiva se manifeste, ela deve ser dissolvida. Desta forma, vamos desfazendo este mecanismo de defesa criado pelo ego. Alimentar a raiva nos leva a perder a clareza dos fatos e atitudes, tornando-nos irracionais, puramente instintivos. Vivemos sobressaltados e paranoicos, achando que tudo está contra nós. Sem paz de espírito, vivemos de forma infeliz.

Pelo fato da raiva nos cegar, podemos até destruir aquilo que nos é mais caro, quando temos como semente a germinar, a ambição. Esta, associada a raiva nos faz produzir verdadeiras catástrofes que, aparentemente, nos impulsiona a estados financeiros e sociais de sucesso, mas que, perante a Luz de Deus, aos Olhos de Deus, é uma experiência que nos remete a zonas umbralinas abismais.

A pessoa que sempre está destilando raiva, lamentando ou reclamando de tudo e de todos não percebe o quanto ela se torna indesejável, perdendo todo o apoio que uma boa amizade poderia lhe dar. Seu campo energético fica extremamente espinhoso e as pessoas, sem perceber a realidade do que está acontecendo no campo sutil, se sentem avessas, se sentem mal na presença dessas pessoas.

Concluo este artigo com o lindo mantra de Chenrezig (em tibetano) ou Avalokiteśhvara (em sânscrito, “Aquele que enxerga os clamores do mundo”) – o Buddha da compaixão. Sente-se confortavelmente. Leve sua atenção para a região que vai do coração até a testa (região frontal). Imagine a mistura da luz rosa do coração com a azul da cabeça, criando uma suave luz lilás. Irradie essa luz lilás para além de seu corpo e deixe-a se expandir infinitamente por todo o Universo.

O MAI PEME HU (em pali) ou O MAI PADME HU (em sânscrito)

Cada sílaba deste mantra uma ligação energética com uma pāramitā. Vejamos:
OṀ (generosidade), MA (conduta moral ou vigilância ou disciplina),
ṆI (paciência), PE ou PA (esforço contínuo ou empenho ou vigor),
ME ou DME (meditação) e HUM (sabedoria).

O Buddha da Compaixão é o amor em nós. E quando vivemos em amor, vivemos na Terra Pura do Nobre Buddha.


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