quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O CANTO DO GALO

 

“Jesus declarou: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante [a trombeta toque], me negarás três vezes”!  

(Mateus, 26:34)

“Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, esta noite, antes que o galo cante [a trombeta toque] duas vezes, me negarás três vezes”.

(Marcos, 14:30)

“Mas ele disse: Pedro eu te digo, (o) galo [trombeta] não cantará [tocará] hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me”.

(Lucas, 22:34)

“Jesus lhe responde: Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo [trombeta] não cantará [tocará] sem que me renegues três vezes”.

(João, 13:38)

 

Dos quatro Evangelhos, o único que observou os detalhes, quanto às trombetas, foi Marcos. Os outros três – Mateus, Lucas e João – não se preocuparam com este pormenor, mas que é tão precioso no estudo oculto do simbólico ali existente.

Tudo nos leva a entender que foram as trombetas da Fortaleza Antônia que ressoaram naquele crucial momento de Simão Pedro. Não havia galo no centro de Jerusalém e nem era permitido, por se tratar de uma cidade sagrada para os judeus, onde residia o Sumo-Sacerdote, aliás, muito próximo dali. O toque da trombeta, em latim, se chama “gallicinium”. Daí vem a confusão, já que os Evangelhos foram traduzidos do grego para o latim, sendo que o de Marcos, que é dito que foi escrito aos romanos, ele usou vários termos latinizados. A menção feita por Marcos, em seu Evangelho, ao duplo ressoar do galo (“toque da trombeta”) parece estar se referindo aos dois “toques de trombeta” existentes após a meia-noite, os quais eram emitidos da Fortaleza Antônia. Um primum gallicinium (“primeiro canto do galo”) entre às 0:00h e às 3:00h da madrugada e, depois dele, o secundum gallicinium (“segundo canto do galo”) que era tocado entre às 3:00h e às 6:00h da manhã, quando outro dia começava a despontar no horizonte.

Mas, vamos ao ensinamento que está contido nesta passagem dos Evangelhos.

Em nossa jornada para o despertar, não está em pauta os nossos erros e acertos, mas as experiências que vivemos, ou seja, o que fazemos com nossos erros e acertos. Na passagem do Evangelho, por exemplo, Pedro precisou errar três vezes antes de “o galo cantar”, negando o seu amor pelo seu Amado Mestre Jesus, para que pudesse despertar a retidão em seus atos – o dharma. O “canto do galo” foi o despertar de Pedro, reconhecendo a sua fraqueza para que se tornasse um guerreiro. Ele, que era orgulhoso, fraco e medroso, lembrou das palavras de seu Mestre: “não cantará o galo duas vezes antes de Me teres negado três vezes”. E naquele exato momento, em que “o galo cantou” pela segunda vez, com certeza, seu centro psíquico da base, que expressa o seu propósito de vida, a sua missão na Terra, entrou em ressonância, vibrou sua Alma e o colocou no caminho da retidão. Sua fé (o conhecimento vivenciado e raciocinado) se tornou inabalável e sua devoção (o amor em prática) ao seu Amado Mestre se consolidou, fazendo dele um Verdadeiro Guerreiro (o reto agir). Assim, o conhecimento, o amor e a ação reta se integraram. Assim, ele se tornou o alicerce que propiciou a propagação da mensagem do Cristo.

E por que Pedro negou três vezes, e não uma, duas ou quatro vezes? Como está dito acima, a primeira negativa foi para acorda-lo quanto à sua fé, consolidando-a. A segunda, para despertar seu amor e devoção ao Mestre. A terceira, para colocá-lo no caminho reto, na ação correta, fazendo aflorar o espírito guerreiro de Pedro, tão necessário naquele tempo para espalhar e implantar os ensinamentos do Mestre.

E por que as trombetas deveriam soar por duas vezes? Como nos conta Marcos, Pedro negou três vezes e, em seguida, a trombeta soou pela segunda vez, o que fez Pedro acordar para a realidade espiritual. Este fato serve não só para que Pedro se lembrasse do que Yeshu’a o teria alertado, mas também para mostrar a Pedro o quanto ele estava dividido e sem fé consolidada, mostrando a dubiedade de seus sentimentos e convicções quanto à missão que lhe foi transmitida por Yeshu’a.

Pode parecer muito estranho e fantasioso esta análise, mas existe um fator altamente simbólico nisto tudo, que transformaria, não só a Simão Pedro, mas também a todos nós, ao estudar os Evangelhos. A Bíblia, tanto no velho testamento, como no novo, onde se encontra os quatro Evangelhos, é repleta de códigos, símbolos e metáforas que devem ser decifrados e extraídos os seus ensinamentos.

O que podemos extrair destes símbolos? Que, para alcançarmos a grande liberação, temos que ter fé inabalável no propósito divino; devoção ao Mestre, dedicando todas as nossas ações para Deus; e reto agir, ou seja, sem desvios em nossa conduta. Quanto às trombetas, jamais devemos titubear, vacilar ou duvidar da voz do coração – nossa mente deve estar fechada para os encantos e palpites externos e focar somente no coração.

Então, eis as perguntas que nunca se calam: E o seu “galo” já cantou, a sua trombeta já soou?  Você está atento ao canto do seu “galo”, ao toque de sua trombeta?

Nenhum comentário:

Postar um comentário