"Satyāt nāsti paro dharmaḥ”.
"Não há conduta
(ou caminho) superior à verdade".
Assim está escrito em sânscrito no
símbolo da Sociedade Teosófica criada no final do século XIX por Madame
Blavatsky (Helena Petrovna Blavatsky) e que se traduz por: satyāt = à verdade; nāsti = não há; paro/paraḥ = superior; dharmaḥ = caminho, conduta, dever, lei, religião; portanto, “não há
religião superior à verdade”. Aqui, a
palavra dharma é traduzida como
religião, que tem um sentido bastante profundo e original, indicando o caminho,
o serviço ou prática do ser humano para retornar à Fonte Suprema. Este é o
verdadeiro sentido desta palavra, que vem do latim “religio”, ou seja, “serviço” ou “prática”, e que, por sua vez, tem
origem no termo “religare”,
significando “religar”. Mas, preferi adotar a palavra “conduta” ou “caminho”
para fugir dos conceitos dogmáticos de uma crença que a palavra religião tem
atualmente.
Dharma é uma palavra sânscrita complexa e
que não há uma tradução direta e simples para qualquer outra língua. Dharma é um conceito. A palavra dharma vem da raiz sânscrita dhṛ, que quer dizer sustentar. Portanto
o dharma é aquilo que sustenta, que
possibilita, que regula, são as leis, os valores,
um estilo de vida. Nosso primeiro impulso seria definir dharma como “o que é ético” ou “o que é moralmente correto”. Mas
esse seria um erro; dharma é muito
mais do que isso.
Dharma
é visto como um dos quatro puruṣhārthas,
ou objetivos da vida humana. Além de dharma,
os outros puruṣhārthas são artha, kāma e mokṣha, segurança,
prazer e liberação. Na busca de alcançar os objetivos de segurança e prazer, e
satisfazer nossos desejos, nos deparamos com a necessidade de fazer escolhas. Expandimos nossa consciência e evoluímos a
partir de nossas ações. Para agirmos, precisamos escolher as ações a serem
tomadas. Através das escolhas, experimentamos as mais diversas situações de
vida. Isto nos aprimora o discernimento, que nos leva a novas escolhas mais
elaboradas e conscientes. Aceleramos este processo, quando tornamos nossa
atenção plena na ação e passamos a perceber os detalhes das atitudes tomadas.
Estejamos atentos e compreendamos cada detalhe de cada ação que escolhemos. E o que nos guia nessas
escolhas é o dharma. No início de
nossa caminhada existencial, artha e kāma são muito importantes, pois são
eles que nos impulsionam a acumular inúmeras experiências e despertar a
necessidade de agir com retidão.
Quando não há mais sentido em buscar adquirir coisas para se ter apenas segurança (artha) e agir para conquistar somente o prazer (kāma), então começamos a entender o que é dharma - um sentido em nossas vidas de agir pelo que é justo, bem aplicado e verdadeiro; o caminho do meio e a retidão de Siddhārtha Gautama, o Buddha. Assim se alcança a liberação (mokṣha). Como disse Mestre Yeshu'a em Mateus, capítulo 6, versículo 33: "Buscai primeiro (primordial ou principal) o Reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". Buscai principalmente o dharma e serás abençoado com mokṣha.
Outras tradições, como o Cristianismo, têm conceitos
análogos. No Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32 um dos mais
importantes ensinamentos de Yeshu’a
aos seus discípulos é: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará". Neste versículo, Yeshu’a
coloca a verdade como a prática suprema para se alcançar a liberdade. Com a
verdade se desenvolve o discernimento e atinge-se a liberação. Mas, para se praticar
a verdade, é necessário a construção de uma base sólida que começa com a descoberta
de nosso propósito na vida.
Quando
descobrimos nosso propósito na vida e avançamos pelo caminho com retidão e
firmeza (dharma), criamos dentro de
nós a capacidade de atrair o que é necessário ao nosso crescimento e isto nos
traz a paz de espírito (śhānti).
Entendemos que não precisamos mais invadir o espaço alheio nem tão pouco
permitir que nos invadam; não transgredimos e muito menos violentamos as Leis
Naturais do Universo (ahiṁsā). Ganhamos a consciência de que tudo tem uma
razão de ser e passamos a ter um grande afeto pela vida, pelos fatos e pessoas
de uma forma serena e profunda, aprimorando o aspecto mais nobre do amor – o
amor universal (prema). Desta forma,
nossa vida passa a ser a mais pura expressão da verdade (satya). Conscientemente,
integramos esses valores humanos dentro de nós, representando de forma
primorosa o nosso papel no palco da vida com lucidez e discernimento (viveka), até que alcancemos a liberação (mokṣha).
No Budismo Tibetano existe o conceito do caminho do meio, a
reta conduta expressa no discurso de Siddhārtha Gautama sobre o “Nobre Caminho Óctuplo”
do clássico “As Quatro Nobres Verdades” (Cattāri Ariyasaccāni, em pali; Catvāri Āryasatyāni, em sânscrito) e no Dhammapada
(Dharmapada, em sânscrito), um dos
principais textos do Budismo Tibetano. As quatro nobres verdades são: (1) a
verdade do sofrimento; (2) a verdade das causas do sofrimento; (3) a verdade da
cessação do sofrimento; (4) a verdade do caminho para a cessação do sofrimento.
Resumidamente a primeira nobre verdade expõe a natureza do
sofrimento e o entendimento sobre o sofrimento, ou seja, tomar consciência do
que é o sofrimento. A segunda nobre verdade faz uma análise sobre a origem do
sofrimento para que não haja recaída no sofrimento, ou seja, o que fazemos que
causa a manifestação do sofrimento. Na terceira nobre verdade entende-se de
como se libertar do sofrimento, compreendendo o dharma e que, portanto, somente através de nossas ações podemos nos
libertar do sofrimento. Finalmente na quarta nobre verdade aprendemos como agir
para se libertar do sofrimento, pondo em prática o caminho óctuplo, que é o
caminho do meio da reta conduta, a saber: compreensão correta, pensamento
correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço
correto, atenção plena correta e concentração correta.
Termino com um conselho de Padre Pio. Reflitam:
“Aja com retidão, mesmo se parecer que todo o inferno vai se voltar contra
você”! Tirem suas conclusões.
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